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Foto do escritorLiza Tuli

FEMBOYS

Atualizado: 17 de abr. de 2021

Quem está constantemente presente nas redes sociais, principalmente no tiktok, com certeza já reparou postagens de homens com roupas que socialmente são atribuídas como “roupas de mulheres”, como vestidos, saias, unhas pintadas, pérolas... São os femboys (junção de femmale + boys), um termo quase que autoexplicativo, em que meninos se vestem e trazem alguns comportamentos atribuídos a meninas. Esse movimento, todavia, não é tão recente como parece. É a revitalização de uma subcultura dos anos 1990, que traz essa subversão do ato de se travestir.

A princípio, o termo era usado de forma pejorativa, em tom de deboche para designar homens cisgêneros com atitudes femininas, fugindo dos padrões masculinos heteronormativos. Todavia, essa definição foi mudando, passando de um termo depreciativo para uma maneira de questionar e ressignificar o conceito de masculinidade na sociedade contemporânea, em que ser um femboy não define a sua sexualidade.

As redes sociais tiveram um importante papel nessa transformação por conectar as pessoas, permitindo trocas, mesmo com o distanciamento, despertando curiosidade, aprendizados e sentimento de pertencimento. Isso contribuiu para que homens que apreciam e usam roupas femininas não se sintam ridicularizados. Além disso, o uso de elementos femininos na vestimenta masculina, como a saia, demonstra uma nova forma de pensar nas roupas cotidianas e como a pandemia atuou nessa necessidade de desestabilizar padrões no dress-code masculino, seja pelo conforto ou pela necessidade de se expressar e trazer vitalidade para um cotidiano isolado.


Mesmo que não tenha sido o primeiro, Harry Styles, sem dúvida, foi de grande importância para atrair os olhares das pessoas para essa quebra de padrões de gêneros na forma de se vestir com a sua aparição na edição de dezembro 2020 da Vogue Americana. Na matéria, Styles fala sobre sua relação com a vestimenta:


“Roupas existem para se divertir, experimentar e brincar. O que é realmente empolgante é que todas essas linhas estão simplesmente se desfazendo. Quando você pega a frase ‘há roupas para homens e há roupas para mulheres’, uma vez que você remove quaisquer barreiras, obviamente você abre a arena na qual você pode jogar. Eu vou às lojas às vezes, e me pego olhando as roupas das mulheres pensando que são incríveis. Isso serve para qualquer coisa - sempre que você está colocando barreiras em sua própria vida, você está apenas se limitando. Há tanta alegria em brincar com roupas [...] simplesmente se torna essa parte estendida da criação de algo. ”

Além dos vestidos e saias que Harry Styles usa no ensaio da Vogue, vale a pena conferir os ensaios com ele das revistas Beauty Papers, Variety, Rolling Stones e, também, as escolhas dos seus lewks fora dos ensaios.

Da esquerda para a direita, Harry Styles para Variety, Rolling Stones, Beauty Papers e Vogue.



Billy Porter, que sempre teve uma ligação forte com a moda, também é um grande nome que trouxe evidência para a vestimenta tida como feminina na moda masculina e o femboy. Porter se descreve como uma “obra de arte política andante” e ao ver um certo choque quando usou uma capa rosa no Golden Globes de 2019, se sentiu inspirado para usar um vestido de baile no próximo tapete vermelho, algo que sempre quis usar e que lhe pareceu um momento oportuno para desafiar mais as ideias das pessoas sobre masculinidade. Desde então, suas superproduções são cada vez mais ambiciosas e, particularmente, Billy Porter é sempre o mais esperado por mim nos tapetes vermelhos, sempre ultrapassando as expectativas.



Billy Porter da esquerda para a direita: Golden Globes 2019,Oscar 2019, Grammys 2020.



Mas, se vamos falar de homens usando vestimentas femininas (lembrando que o ato de se travestir é algo bem mais antigo, de meados do século XVIII) devemos lembrar de alguns momentos icônicos do passado, como Kurt Cobain com seu vestido florido na capa da revista The Face - mais uma vez o cantor influenciando na moda sem a menor intenção de fazer isso -, Mick Jagger, em 1969, com seu vestido branco em um concerto no Hyde Park e, é claro, David Bowie na capa de The Man Who Sold The World (entre outras produções coloridas e extravagantes).


Para exemplificar essa mudança de paradigma na moda masculina:

Entre marcas e estilistas que vem trazendo a moda feminina para os desfiles masculinos podemos citar Stefan Cooke, Simon Jacquemus, Kim Jones, Rick Owens, Vivienne Westwood, Ludovic de Saint Sernin, Palomo Spain, Off-White... Entre famosos, além de Harry Styles e Billy Porter, temos Jaden Smith (que também levou as saias e vestidos para a última coleção da sua marca), Yungblod, Jay-z, Kanye West, Ezra Miller, Robert Sheehan, Timothée Chalamet... Quanto a usuários/influencers do instagram e tiktok: Seth Williams (fashionista do tiktok @thatsusboi), Judd Anderson (influencer no insta @jvdda), Mark Bryan (outro super fashionista no insta @markbryan911)...

Sobre Mark Bryan: um perfil no instagram que vale à pena seguir, em que o influenciador desfila diferentes lewks com sua vasta coleção de saias pelo cenário urbano. Segundo Bryan, a maioria das críticas que recebe são positivas e quando algum homem se dirige a ele é para perguntar como ele consegue andar de salto alto. Para o estilista Ludovic de Saint Sernin é um apelo à subversão e segundo ele “É muito divertido ser capaz de usar algo que geralmente pertence à moda feminina e, ao mesmo tempo, manter uma aparência concebível a um homem”.


Já Judd Anderson diz receber alguns insultos homofóbicos apenas porquê usa mais roupas femininas e maquiagem e que muitas pessoas sofrem bullying por isso. Mas mostra um sentimento de esperança quando diz que quanto mais pessoas influentes (usa como exemplo Harry Styles) trazem esse estilo para a mídia e geram consequências e comentários positivos, mais pessoas que se sentiam oprimidas ou tinham medo de serem julgadas por se expressarem de forma mais feminina vão se sentir livres e pertencentes a um grupo. Apesar de não se denominar um femboy, diz não se importar que o chamem assim e acrescenta que as pessoas apenas não estão acostumadas a verem homens com roupas de mulheres.


Para alguns, femboy não significa moda sem gênero, mas eu acredito que o excesso de definições sobre o que algo é ou deixa de ser já é uma barreira para a liberdade de expressão. Muitas marcas que se dizem agênero acabam explorando apenas a vestimenta que era considerada antigamente masculina para homens e mulheres, ficando na zona de conforto “conjunto de alfaiataria e terninhos”. Creio que, em algum momento, o que era tido como vestimenta feminina também irá se tornar moda agênero, desde saias, vestidos, shortinhos e brilho até unhas feitas, meia calça e maquiagens.


Todavia, se tem algo que todos podemos concordar em relação aos femboys é que sistemas culturais opressivos vem sendo quebrados, permitindo que a expressão individual de cada um voe livremente. Por fim, eu espero ansiosamente pelo momento em que veremos homens com roupas femininas saindo do conceitual dos desfiles, revistas e tapetes vermelhos e passando a caminhar frequentemente pelas ruas. E vocês, o que acham?

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